Por Declev Reynier Dib
Ferreira
“Se você vai ao médico, o doutor precisa de uma série de instrumentos,
estrutura e serviços para poder te atender e, possivelmente, curar.
Precisa do consultório,
onde se encontram instrumentos tais como estetoscópio, aparelho de pressão
entre outros.
Precisa de limpeza,
asseio, pia com água corrente, luvas.
Se ele precisa de exames, te encaminha para um lugar onde possa fazê-los,
onde tenha máquinas de raio-x, de tomografia, de ultra-sonografia.
Se ele acha que você
tem que tomar tais e tais remédios ou tem que fazer este ou aquele
procedimento, te indica e assim se faz.
Mas as pessoas que vão
ao médico geralmente vão porque estão precisando e, portanto, querem ir, não
são obrigadas e fazem o que ele prescreve.
Se a pessoa não fizer
e piorar ou mesmo morrer, não se culpará o médico.
Se você vai ao mecânico levar
seu carro, o mecânico precisa de uma série de ferramentas e equipamentos para
averiguar o que acontece.
Precisa de chaves para
parafusos, lanterna, macacos, bombas de ar, medidores de óleo.
Precisa também de um
local apropriado, uma oficina com espaço, ajudantes, equipamentos
que possam fazer força, até mesmo levantar o carro a uns metros do chão.
Se ele diz que seu
carro precisa de óleo novo, de uma limpeza no motor, de novos fluidos de freio
e, quiçá, trocar a repimboca da parafuseta, pois ela está gasta, assim se faz.
Você não é obrigado a
levar seu carro lá, leva porque está precisando, mesmo
sem gostar disso, pois sabe que um carro com problemas pode te deixar na mão
ou, pior, causar um acidente.
Se o mecânico te
indica uma série de procedimentos a realizar em seu automóvel, você faz.
Se não fizer e sofrer
um acidente, não poderá culpar o mecânico.
Se você pretende
construir uma casa ou reformar a que já tem, solicita um
profissional, seja ele um arquiteto, um engenheiro ou mesmo um mestre de obras
competente.
Ele vai averiguar as
obras a fazer e te indicar uma série de materiais a comprar para fazer a
construção.
Ele pode indicar,
inclusive, marcas que considera melhores e mais seguras. Te diz que precisa
reforçar aqui ou ali, colocando mais sustentação na sua moradia.
Você faz o que ele
indica, pois que ele é o profissional entendido no assunto.
Se você não fizer e
sua casa sofrer uma avaria por conta disso, não culpará o construtor.
Os professores dizem
que precisam disso ou daquilo. Mas oferecem-nos aquilo outro e nos dizem:
“façam milagres com o que te damos!”. “Resolvam o mundo, ensinem as
crianças a ser cidadãos com isso que lhes demos!”
Esse é o recado que
recebemos.
Mas, ora, se dissemos
que necessitamos de um emprego com salário decente para não termos que nos virar com 3, 4
ou 5 empregos, é porque assim o necessitamos para desenvolver nosso trabalho.
Se dissemos que
necessitamos de tempo fora de sala para planejamentos, estudos, pesquisas,
correções e melhoras em nosso trabalho, é porque isso se faz extremamente
necessário ao bom andamento das aulas.
Se dissemos que
necessitamos de uma escola bem estruturada, com materiais
pedagógicos, tecnológicos, salas confortáveis e atraentes, espaços para as
crianças brincarem, menos alunos por turma, outros profissionais para nos ajudarem no batente
(pedagogos, psicólogos, inspetores, etc.), é por que assim é necessário para o
bom andamento do processo de ensino-aprendizagem.
Ora, “ensinar” não é
um processo mecânico, não tem uma regra definida nem um método eficaz
cientificamente comprovado! Cada caso é um caso, cada escola é única, cada
professor tem seu jeito, cada turma se relaciona de formas diferentes, cada
pessoa é um mundo à parte. É um universo que tem que ser desvendado a cada
dia.
E, para isso,
necessitamos de uma série de recursos (financeiros ou estruturais) que, se não
nos derem, não conseguiremos fazer o que devemos.
Sem termos um cabedal
de possibilidades, não podemos dispor deles – porque não os temos – para fazer
as adaptações, consertos, desvios de rota, encaixe, melhoras aqui e ali
necessárias diariamente.
Repito: essas são
necessidades diárias!
Então, dão-nos uma
sala com os alunos sentados nas carteiras, um quadro-não-mais-negro (porque
agora, em muitas escolas é branco) à frente e nos dizem: ensinem!
Virem-se. Ensinem tudo
aquilo que a família não fez. Mudem as crianças que o Estado abandonou.
Transformem em cidadãos capazes, com o que te damos, estes que relegamos.
Ora, fazemos, sim, com
prazer, pois sentimos prazer em fazer isso.
Mas PERGUNTE-NOS DO
QUE PRECISAMOS!
Que materiais
queremos? Quanto tempo precisamos? Quantos damos conta? O que a escola precisa
ter? Qual a estrutura física e temporal a escola deve ter, professores, para
que vocês possam fazer seus trabalhos com competência?
Os alunos NÃO SÃO
máquinas as quais ao passarem pela esteira das séries podemos inserir peças de
conhecimentos em seus cérebros!
E nós não somos
operários que não sabem pensar, mas somente realizar aquela pequena função de
inserir aquela peça específica no cérebro do aluno máquina, naquela determinada
parte da esteira-série.
Portanto, sabemos do
que necessitamos.
Deve-se lembrar, por
fim, que, ao contrário dos exemplos citados no início, os alunos em sua maioria NÃO
ESTÃO na
escola por livre e espontânea vontade. NÃO ESTÃO lá porque querem, mas porque são obrigados.
Eles não estudam
porque querem (o que é natural em
suas idades de querer brincar e namorar).
Portanto, temos que ficar
o tempo todo receitando, dizendo, pedindo, mandando, solicitando,
estimulando-os a estudar.
E, se não fazem e não
aprendem, ainda por cima querem nos culpar?!?
Francamente…”
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